sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Documentário mostra como programa médico cubano é alternativa para estudantes pobres dos EUA

Documentário “Community Doctors” apresenta a Escola Latino-americana de Medicina (ELAM) em Cuba

Médicos em Cuba. Reprodução: Community Doctors/Youtube
Por María Peña no El Diário/Tradução: Eduardo Vasco

Aparte as viagens e mojitos ao ar livre, o novo capítulo de abertura entre EUA e Cuba permitirá que mais estadunidenses de baixos recursos possam conseguir na ilha seu sonho de ser médico sem o peso de uma dívida astronômica.

O custo médio de um curso de medicina de quatro anos nos EUA foi de U$ 278,455 em escolas privadas e de U$ 207,866 em universidades públicas em 2013, segundo a Associação de Escolas de Medicina dos EUA (AAMC).

Esse alto custo deixa estudantes de poucos recursos nos EUA cada vez mais longe de realizarem seu sonho de ser médicos, mas, no marco da “diplomacia médica” de Cuba, a Escola Latino-americana de Medicina (ELAM) serve de “íman” para milhares de estudantes de EUA, América Latina, Caribe, África e Ásia.

Desde 1999, a ELAM dá bolsas gratuitas para estudar medicina – completamente em espanhol –, em troca de que, ao concluir o curso de sete anos, os estudantes se comprometam a praticar sua profissão ou ofereçam seus serviços em comunidades marginalizadas.

Trata-se de uma aposta em que todos ganham: os estudantes minoritários dos EUA adquirem seu título de doutor sem cair na ruína financeira, e Cuba atrai boa fama por suas conquistas na área da saúde.

Escola Latino-americano de Medicina. Reprodução: Community Doctors/Youtube
Segundo dados oficiais, cerca de 25.000 médicos de 84 países egressaram da ELAM. Nos EUA, 25 graduados da escola agora exercem medicina em Nova Iorque, Califórnia, Novo México, Mississippi, Louisiana, Illinois, Ohio e Georgia.

Lições de Cuba

O documentário “Community Doctors”, realizado por Kunle Ekunkonye, descreve em 1h40min o êxito da ELAM, em um país onde as farmácias e hospitais frequentemente mostram estantes vazias mas onde também, graças à “inteligência e resiliência”, os doutores fazem mais com menos.

Em entrevista exclusiva para este diário, Ekunkonye explicou que o documentário pretende educar a opinião pública sobre o sistema de saúde de Cuba, que “consegue resultados similares, e em alguns casos melhores que os nossos nos EUA”, com uma fração do gasto.

Segundo o documentário, os EUA gastaram U$ 3,4 bilhões em cuidados com a saúde em 2014 mas segue afundado em disparidades sociais nos indicadores de saúde.

“Eles (as autoridades cubanas) estão fazendo algo que podemos aprender... enfatizam a saúde preventiva, têm doutores em todos os bairros e educam a população sobre temas relacionados ao cuidado com a saúde”, observou Ekunkonye.

“Espero que o documentário desperte consciência sobre o que podemos fazer na área de saúde, se se aborda a partir de outras perspectivas para alcançar uma população saudável e para fomentar uma maior colaboração entre ambos os países”, destacou Ekunkonye, licenciado em Ciências da Computação pela Florida International University (FIU).

A ideia do documentário surgiu após uma viagem que Ekunkonye fez em 2012 para visitar o ser irmão, que participava do programa.

Sua maior surpresa nessa viagem, disse, foi encontrar “pessoas geralmente felizes, saudáveis e cheias de energia”, apesar de problemas de recursos.

O documentário tem sido difundido em um momento em que os EUA enfrentam uma escassez de médicos e enfermeiras, e o próprio futuro de “Obamacare” ocupa um lugar dominante na campanha presidencial: a democrata Hillary Clinton defende a reforma da saúde de 2010 idealizada e promulgada pelo presidente Barack Obama, enquanto que o republicano Donald Trump prometeu eliminá-la.

Altos e baixos em Cuba

Ekunkonye reconhece que o sistema de Cuba é alvo de críticas e que “em alguns casos, os pacientes têm que levar suas próprias colchas e outras coisas para o hospital, porque não tem todos os recursos”, uma situação agravada, segundo indicou, pelo embargo.

Por outro lado, enfatizou que o sistema também apontou importantes conquistas, como o desenvolvimento de uma nova vacina (CIMAVax) e tratamentos contra o câncer de pulmão, que rapidamente poderiam beneficiar pacientes nos EUA.

Cerca de 5 mil pacientes com câncer de pulmão em todo o mundo já receberam a vacina, aplicada uma vez por mês no ombro e que tem um custo de até U$ 2 por dose.

A vacina não é uma cura milagrosa contra o câncer mas consegue asfixiar os tumores, prolonga a vida dos pacientes e tem níveis mínimos de toxicidade, segundo o oncólogo Kelvin Lee, do Instituto de Câncer Roswell Park, que lidera os testes clínicos nos EUA.

As bolsas de estudo da ELAM não cobrem gastos relacionados às viagens de ida e volta de Cuba, materiais de estudo e a preparação para osexames de licenciatura médica dos EUA (USMLE), mas o grupo humanitário “IFCO/Pastors for Peace” oferece bolsas para esses custos.

O documentário completo está disponível em: http://communitydoctorsfilm.com,  e os estudantes estrangeiros podem obter informação sobre estatísticas e requisitos de ingresso na ELAM em sua página web.

Trailer do documentário

 

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