terça-feira, 22 de setembro de 2015

"Autoestima e alto padrão educacional da população cubana podem frear invasão da indústria cultural em Cuba"

Cuba virou referência por cultivar cultura e arte como estilo de vida, diz professor cubano da Universidade de São Paulo

Foto: Juventude cubana.
Ao fundo presidente Raúl Castro e ex-presidente Fidel Castro

Por Dodô Calixto no Opera Mundi 

Como resultado do embate com os EUA, Cuba costuma ser analisada pela comunidade internacional como um fenômeno político e econômico. No entanto, existe uma outra perspectiva, tão importante quanto, pouco discutida: a Cuba multicultural e multiétnica, que produz cultura intensamente. Essa é a análise do cubano Felipe Chibás Ortiz, professor de comunicação digital na ECA-USP e Mackenzie.

"Mesmo com o bloqueio, Cuba conseguiu se estabelecer como um país cultural, superando barreiras e, sobretudo, nutrindo um renascimento interno da cultura dentro do coração de cada cidadão. Não apenas como um fenômeno comercial, Cuba cultivou a cultura e arte como um estilo de vida, investindo nesse sentido. Isso permitiu, para citar um exemplo, que a escola cubana de balé seja a maior do mundo - são mais de 4.000 alunos. A escola cubana de pintura é famosa no mundo inteiro, como nomes importantes. A literatura e a música entre outros movimentos também têm reconhecimento internacional", analisa.


Chibás, que vive no Brasil há mais de 10 anos, aponta o violinista Leo Brouwer como exemplo de como a cultura cubana vai além de fronteiras do debate econômico e político. A razão principal para a intensa manifestação artística, afirma Chibás, é que Cuba "nutre e cultiva a raiz e a identidade do seu povo". "Existem festivais internacionais de violão com o nome de Leo Brouwer. Temos também a literatura e as artes plásticas, que são internacionalmente conhecidas. Temos Alicia Alonso, uma relíquia cubana, que com mais de 90 anos é reconhecida como prima bailarina assoluta - prêmio máximo de honra no balé internacional. O exemplo de Alicia é interessante, pois ela uniu características do balé norte-americano com o balé russo. O resultado não foi uma soma dos dois. Ela o transformou dentro da raiz e da identidade cubana - que é marca da produção cultural do país -, fazendo com que o nosso balé seja um dos mais reconhecidos do mundo", afirma.

"Outra relação importante sobre a cultura cubana é que não existe discriminação. Em Cuba, vocês vão conhecer dançarinos de balé negros, mulatos e também brancos. É interessante conhecermos esse outro lado. O cubano Carlos Acosta, um dos maiores bailarinos do mundo, é mulato. Ele, uma estrela mundial do balé, não é exceção, pois somos um país multiétnico e multicultural. Então, temos brancos, negros, orientais e todos estão representados nessas manifestações artísticas. É uma fronteira de expansão cultural que permite as pessaos a ter esse outro lado. Muitas vezes não se conhece, mas Cuba é isso também", completa.

Foto: Felipe Chibás. Por Opera Mundi TV
Reaproximação com EUA

Para Chibás, a reaproximação diplomática entre EUA e Cuba é uma "grande incógnita". É uma questão em aberto que pode de fato modificar as peculiaridades da produção cultural de Havana. No entanto, destaca que a autoestima cubana e o alto padrão educacional da população podem frear uma invasão da indústria cultural no país.

"O que me chama atenção é que sempre durante esse processo de conflito entre os dois países nunca se proibiu Cuba a exibição de filmes norte-americanos, como aconteceu em outros países de formato socialista. Em Cuba, se acompanha o Oscar, por exemplo, e sempre se acompanhou essa parte da cultura pop em Cuba. Evidentemente que a influência dos EUA, como país e como identidade e como cutura, é muito forte. Tudo chegará de uma vez: redes de restaurante fast-food, empresas de cartões de crédito, redes hoteleiras. Será um 'boom' e não sabemos como isso irá evoluir. No entanto, Cuba tem um povo com muita educação. E tem esse lado multicultural, que entende o mundo e valoriza aquilo que é próprio, ou seja, a identidade cubana e a sua autoestima. Portanto, na minha opinião, mesmo com a reaproximação, existem mais chances que a vida continue do que se fosse de outra maneira", analisa.

Lançamento de livro

Como fruto de pesquisa da perspectiva multicultural cubana, Felipe Chibás coleciona em seu trabalho livros de poemas, e obras sobre criatividade e inovação. Em sequência do trabalho, ele lançou na último dia 12/08 na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi o livro ''Gestão da Educação a Distância': comunicação, desafios e estratégias (Atlas, 304 págs, R$75,00).

"Como montar uma equipe digital e motivar os alunos por meio das plataformas digitais, games, etc. Esse é o cenário do livro. Hoje é importante fazer reflexões de como facilitar com as tecnologias o conhecimento para as pessoas mais simples e também para o mundo coorporativo", diz.

Um comentário:

  1. Cuba virou referência por cultivar arte e cultura e referência global, por investir na medicina, uma das melhores do mundo, como projeto social.

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