quarta-feira, 20 de maio de 2015

"Pela 1ª vez na História, Cuba está sentada de frente para os EUA como nação livre"

Fim do bloqueio a Cuba ainda não aconteceu, diz cônsul no Brasil
Cônsul-geral de Cuba no Nordeste durante a convenção baiana

Por Erikson Walla no Vermelho 

Salvador sediou, na última sexta-feira (15/5), a III Convenção Estadual de Solidariedade a Cuba. Um dos motes da atividade, que estava impresso nos cartazes espalhados pelo auditório da Biblioteca Pública dos Barris, onde aconteceram as discussões, foi o fim do bloqueio econômico imposto à Ilha. Uma pergunta foi inevitável aos presentes: Mas o fim do bloqueio não já aconteceu, com o acordo feito com os Estados Unidos, recentemente?

Ainda não. Pelo menos é o que garante a cônsul-geral de Cuba no Nordeste do Brasil, Laura Pujol, uma das principais convidadas do evento. Segundo Laura, a retomada de relações não é um processo simples e muitas questões ainda precisam ser resolvidas para que a relação entre os dois países seja normalizada. No entanto, a cônsul está otimista com a possibilidade de um real reatamento e prevê ganhos significativos para o povo cubano, principalmente no que se refere ao desenvolvimento econômico.

“Pela primeira vez na História, Cuba está sentada de frente para os Estados Unidos como nação livre, independente e soberana, em igualdade de condições”, afirmou, orgulhosa, a cubana, ao defender que o acordo é uma conquista de Cuba e não um sinal de que os Estados Unidos cederam. Ela sabe que o objetivo dos norte-americanos é acabar com a revolução cubana, mas disse que o seu povo não desconhece isso e que tem condições de conviver com divergências.

A pequena entrevista de três perguntas feitas a Laura Pujol para o Vermelho aconteceu pouco antes da Convenção, enquanto aguardávamos o início da atividade. Confira.

Por que ainda não foi concretizado o fim desse bloqueio a Cuba?

Na verdade, os anúncios feitos se referiam ao reatamento de relações diplomáticas com os Estados Unidos, coisa que ainda não aconteceu rodada de negociação. Hoje mesmo [sexta-feira] foi anunciado que vamos ter uma nova roda de conversas, no dia 21, em Washington, para determinar a abertura das embaixadas. É um processo que inclui, também, a normalização das relações entre Cuba e Estados Unidos com uma agenda já a médio prazo, ou seja, tem algumas questões que precisam ser resolvidas para poder ter uma relação normal com os Estados Unidos. Por exemplo: a Base Naval de Guantánamo, o fim do bloqueio econômico, financeiro e comercial contra Cuba. O primeiro passo já foi dado, que foi o anúncio da eliminação de Cuba da lista de Estados patrocinadores de terrorismo. Isso deve ser feito no final deste mês [maio] e o presidente falou que, a partir desse momento, os dois países poderiam começar a nomear os respectivos embaixadores para o reatamento de relações. A eliminação do bloqueio, eu imagino, é um processo que requer outras ações, sobretudo porque o presidente Obama ainda tem a força e a autoridade moral para pedir ao Congresso a eliminação do bloqueio. A maioria do povo americano quer o fim do bloqueio. Penso que ele pode ao menos pedir ao Congresso, como fez com a lista dos patrocinadores do terrorismo, a eliminação do bloqueio e de muitas medidas acessórias, que poderiam flexibilizar muito e melhorar a vida do povo cubano.

O que mudaria, de fato, na vida do povo cubano, com o fim do bloqueio?
Nós teremos acesso, pela primeira vez, a uma possibilidade de um desenvolvimento econômico, coisa que nos tem sido negada nos últimos anos. Então, seria um intercâmbio total. O bloqueio produz danos econômicos e perdas de vidas humanas. As Nações Unidas e todo o mundo rechaçam essa política. Mas, verdadeiramente, penso que esse intercâmbio é muito grande, sobretudo do ponto de vista econômico, para melhoria da vida do povo cubano.

Como recebeu a notícia do acordo? O povo cubano não ficou com o ‘pé atrás’ com o fato de os Estados Unidos terem, de certa forma, cedido?
Eu penso que os Estados Unidos não estão cedendo, mas estão cambiando estratégia. Eles estão publicamente dizendo que o que estão fazendo é mudando estratégia para acabar com a revolução cubana, ou seja, não estão enganando ninguém, estão sendo muito claros na fala. Nós também estamos sendo muito claros. É uma coisa que nós cubanos temos tido durante muito tempo que, mesmo tendo diferenças importantes, algumas delas muito grandes, todos os dois povos estão em condições de conviver e de ter relações, digamos, entre contrários, de divergentes em muitos sentidos. Pela primeira vez na História, Cuba está sentada de frente para os Estados Unidos como nação livre, independente e soberana, em igualdade de condições. Isso é um feito histórico e o povo cubano está orgulhoso de ter chegado neste momento, em condições de estabelecer esse diálogo. Não estamos pensando que os americanos cederam nada, que não estejam relegando nada que não tenhamos conquistado, durante muitos anos de sacrifício, dos meus pais, do meu povo.

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