segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O Fidel Castro que conheci [por ocasião de seus 86 anos de vida]

Por Julio López Campos

Sem nenhum mérito pessoal que o explique –a não ser as generosas oportunidades que as revoluções vitoriosas oferecem- em muitas ocasiões, pude ver e ouvir a Fidel.

Depois de mais de 30 anos dessas experiências, por primeira vez escrevo uma linhas, para partilhar algumas impressões e expressões do dirigente e estadista revolucionário mais importante da história recente, que perduram em nossa recordação.

1. Sua superioridade residia na ética e no humanismo. Ensinava aos políticos e dirigentes revolucionários a não mentir jamais. Não há maneira de ocultar uma mentira. Político que mente fica desprestigiado. O dirigente não é uma estrela de cinema, por muito que seja fotografado e televisionado. Zelar pela conduta pessoal. Em outro plano: Ninguém tem a suficiente força moral para pedir a outro revolucionário que coloque seu país ou sua revolução em risco.

2. Lealdade. Respeito por si mesmo, pelos princípios e pelos demais é imprescindível. O adversário consequente também deve ser respeitado. A confiança, indispensável. Deve ser bem cuidada. Uma falta pode destruí-la irreparavelmente. Honesto e transparente. Sempre temos que dizer a verdade; porém, não estamos obrigados a dizer toda a verdade; menos ainda quando nem sequer nos perguntam por ela.

3. Tudo é feito em função das pessoas e pela humanidade. Saúde e educação prioritárias. Confiar e estar sempre perto do povo. O capitalismo é explorador e depredador. Somente há uma saída possível: o socialismo. Não desistiremos jamais. Se ficarmos sozinhos no planeta com nossas bandeiras, nosso último grito em defesa do socialismo será escutado até em Marte. Muito antes do desaparecimento da URSS, disse: "Seremos testemunhas de um acontecimento histórico sem precedentes na história da humanidade, o trânsito do socialismo para o capitalismo em uma sociedade" (a URSS).

4. Mente brilhante. De memória assombrosa. Informado como poucos no mundo. Abnegação e paixão pelo conhecimento. Procedia por ondas em ascensão ao exame daqueles temas essenciais; por exemplo: a impagável dívida externa. Partilhava o avanço gradual de suas análises. Não descansava até conhecer o problema em sua totalidade e chegar à essência do mesmo. Antecipava-se aos acontecimentos. Procedia como as ciências.

5. Criador. Sobretudo, original. Atualizava e fortalecia a obra inacabada de Marx e Martí. Não usava manuais, e nem repetia dogmas nem nomes, nem fraseologia revolucionária; porém, afinando o ouvido, se podia escutar, no fundo, sua disciplina com o método de Marx e o exemplo de Martí.

Para ele, além dos fluxos e refluxos das lutas, sempre são tempos de revolução. A luta revolucionária é sempre de imperiosa atualidade.

6. Nossos adversários e o imperialismo, em particular, são insaciáveis na demanda de concessões. Nunca estarão satisfeitos. Sempre querem mais concessões. Somente ficarão satisfeitos quando nos virem derrotados, de joelhos. Temos que ser flexíveis; porém, determinar rigorosamente os limites e saber defender com firmeza nossas posições.

7. A estratégia não deve ser improvisada. Temos que calcular muito bem o que acontecerá se ganharmos ou se perdermos. No desenvolvimento de uma estratégia, nunca temos que vacilar nem ficar na metade do caminho. É derrota na certa! Todas as consequências devem estar previamente previstas e preparadas para que atuemos em consequência. Ganhe-se ou perca-se. Insistiu com os dirigentes sandinistas: o que acontecerá caso percam as eleições?

8. Dirigente sem honorário. Vocação de mestre, ideólogo revolucionário. De cultura universal. Dedicava as horas que fossem necessárias para explicar uma posição ou para escutar ao seu interlocutor. Assim como ensinava, escutava. Quando se falava de Nicarágua, dava a impressão de saber mais do que os dirigentes sandinistas.

9. Internacionalista. Sem contar com a melhor tecnologia, era capaz de dirigir nos mínimos detalhes os combates distantes de uma guerra, como aqueles memoráveis contra o exército sul-africano. Conhecia os nomes dos principais combatentes, bem como dos lugares onde lutaram a Frente Sandinista de Libertação Nacional (Fsln), da Nicarágua; ou a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (Fmln), de El Salvador.

10. Consciente de sua preeminência na direção da Revolução Cubana, que ele atribuía humildemente à sua maior experiência. Respeitoso dos demais dirigentes. Não acumulava riqueza pessoal. Não impunha seus pontos de vista. Explicava, persuadia e acatava as instâncias estabelecidas pelo partido ou pelo governo cubano.

Texto original em espanhol, publicado em Manágua/Nicarágua em O novo diário.

Tradução: ADITAL.

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