segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Impressões de viagem a Cuba


Por Max Altman
via email do próprio autor. 

A fim de assistir, em representação do Comitê Brasileiro pela Libertação do 5, ao VII Colóquio pela Libertação dos 5 Herois Cubanos e Contra o Terrorismo, que teve lugar em Holguin, na província oriental de Holguin, Cuba, neste mês de novembro, passei 10 dias na Ilha, metade dos quais na mencionada cidade e a outra em Havana.

Defensor dos princípios que nortearam e norteiam a Revolução Cubana, antes ainda do triunfo da guerra revolucionária comandada por Fidel Castro e seus companheiros, sempre que a visito – foi a minha 12ª estada – procuro inteirar-me da situação social e econômica do país, buscando conversar com as pessoas comuns e com quadros mais responsáveis.

Como foi a primeira visita depois da aprovação pelo parlamento cubano das Linhas Gerais da Política Econômica e Social do Partido e da Revolução meu interesse se centrou em como estão evoluindo as medidas adotadas e as reações das pessoas.


Cuba enfrenta dificuldades na obtenção de investimentos em larga escala para a construção de obras cruciais para o desenvolvimento acelerado de seu potencial econômico e de infra-estrutura, embora esteja em pleno andamento uma delas: a construção do novo porto de Mariel e seu complexo rodo-ferroviário com financiamento brasileiro. O país necessita seriamente de novas e adicionais fontes de energia. O foco principal está voltado para o incremento da produção agrícola. Terras foram cedidas em comodato de longa duração para dezenas de milhares de agricultores. Se alcançar a esperada produção alimentar destinada ao consumo popular e à rede hoteleira em expansão – esse ano são esperados 2,7 milhões de turistas – haverá uma economia na importação de perto de 2 bilhões em moeda forte que poderão ser destinados a outros setores. Viajando pela província de Holguin, que é essencialmente agrícola, pudemos observar áreas planas sem cultivo, uma rareada presença de gado vacum e em alguns casos a utilização de arado rudimentar puxado por parelha de bois.

E a reação popular? Em grande medida é mais de esperança do que ceticismo. As novas medidas que vêm sendo implementadas são recebidas favoravelmente. Setores ligados ao turismo: hotelaria, locomoção, transporte, atividades artísticas, restaurantes e cafeterias, mostram-se mais animados. ‘Habana Vieja’, por exemplo, a par da reconstrução acelerada de seus edifícios, vê nascer um quantidade de restaurantes, cafeterias e lojas mais modernas. A queixa generalizada, porém, é quanto ao baixo poder aquisitivo do peso cubano mais ainda do que um certo ressentimento quanto aos que ganham total ou parcialmente em Cucs, moeda cubana equivalente ao dólar. Mas as pessoas têm consciência dos serviços oferecidos gratuitamente – saúde, educação, lazer – ou altamente subsidiados – alimentação, transporte, cultura. E mais consciência ainda de que o problema salarial só será paulatinamente enfrentado com o crescimento da produção e da produtividade agrícola e industrial.

Enfim as observações acima suscitadas são temas amplamente discutidos em todas as esferas de decisão e entre a população em geral. Os amigos de Cuba e da Revolução esperam que os enormes obstáculos sejam superados nos próximos anos. O povo cubano já mostrou em outras cruciais oportunidades sua resistência, persistência e tenacidade.

Gostaria, por fim, de ressaltar três aspectos pontuais da visita:

O Colóquio pela Libertação dos 5 recebeu a participação de 413 representantes de 50 países, numa demonstração eloqüente de que mais e mais gente em todo o mundo passa a conhecer a enorme injustiça que se pratica contra os cinco lutadores antiterroristas. Foram jornadas de reflexão, de combate, de reclamação por justiça e de denúncia ao terrorismo e à injustiça. Depois de 13 anos de injusta prisão, a situação dos 5 continua sendo crítica. René González cumpriu até o último segundo, em 7 de outubro, sua condenação, porém em vez de ser devolvido a Cuba, recebeu um novo castigo: obrigá-lo a permanecer em território dos Estados Unidos por mais 3 anos sob liberdade supervisionada, sem poder receber a visita de sua esposa Olga Salanueva, a quem até hoje o governo de Washington nega o direito de visitá-lo, expondo-o aos grupos terroristas com sede em Miami, pondo sua vida em risco. A situação de Gerardo Hernández continua sendo a mais grave dos 5, condenado que está a duas prisões perpétuas mais 15 anos, e a quem lhe negam sistematicamente a visita de sua esposa, Adriana Perez. As condenações de Ramón Labañino, Antonio Guerrero e Fernando González, mesmo após as comutações, somam coletivamente 70 anos de prisão. Ainda se espera a resposta dos recursos de Habeas Corpus, porém há consciência do esgotamento das vias legais. O caso deixou o terreno judicial para entrar no campo político. Soluções aventadas no Colóquio vão desde a troca de prisioneiros, ação a ser tramitada entre os governos de Cuba e dos Estados Unidos até um indulto que poderia ser firmado pelo presidente Obama, submetido à forte pressão internacional. Enquanto os antiterroristas guardam injusta prisão, Luis Posada Carriles, responsável pela morte de centenas de seres inocentes, passeia livremente pelas ruas de Miami, sob proteção de Washington, celebrando seus crimes, sem o menor arrependimento, propondo novos atentados terroristas contra Cuba, seu povo e seus dirigentes.

O povo trabalhador cubano continua oferecendo forte apoio à Revolução e às lideranças do país. Na visita que parte dos participantes do colóquio fez a uma cooperativa de produção de arroz, sob assistência técnica do Vietnã, no município de Calixto Garcia, zona rural de Holguin, pude verificar no contacto direto com camponeses, que eles mantém firme sua confiança nos destinos da Revolução e nas medidas para fazer avançar o processo. Estão dispostos a trabalhar duro para aumentar a produção agrícola. Esperam receber mais equipamentos com o fim de mecanizar o plantio e a colheita. Imaginam que este mesmo sentimento é o de milhares de camponeses e cidadãos que se estão incorporando ao trabalho na terra.

Holguin é uma província de cerca de 1,1 milhão de habitantes. Sua capital possui 130 mil habitantes. Pudemos, no decurso do colóquio, atestar pessoalmente a notável atividade artística dessa pequena cidade. Há pouco inauguraram um moderno e bem equipado teatro para 876 espectadores, o Teatro Eddy Suñol, destinado a espetáculos teatrais, musicais e balé. Nele exibiram durante o colóquio uma emocionante apresentação de um elenco infantil contando a história de Cuba e um belo espetáculo musical de canções e dança. Pessoalmente, entrei em contacto com artistas do Teatro Lírico de Holguin Rodrigo Prats e, ao assistir a um longo ensaio, facilitado pelo Secretário de Cultura da província, Alexis Triana, constatei o alto nível artístico de cantores como Jose Tauler, Liudmila Perez, Maria Dolores Rodriguez e Yuri Hernandez, que brilhariam em qualquer palco lírico do mundo, além da pianista Rosário Aguilera que tocou o Odeon de Ernesto Nazareth, de uma partitura que lhe havia enviado há tempos, com a qualidade dos melhores pianistas brasileiros. É de impressionar a quantidade e qualidade do material humano artístico de uma localidade distante de centros como Havana e Santiago, apesar dos parcos recursos materiais de que dispõem.   

Max Altman
25 de novembro de 2011 

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