domingo, 13 de novembro de 2011

Crise alimentar sem crise de alimentos

Fonte: PRENSA LATINA

Escrito por Camila Carduz*

Havana (Prensa Latina) A má distribuição e a falta de políticas efetivas que permitam enfrentar a crise alimentar, estão ao mesmo tempo entre suas principais causas.

  Segundo um relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), no mundo existe suficiente comida apesar de aumentar o número de desnutridos pela falta de acesso dos setores mais pobres a esses bens.

MALES AGRAVADOS

A crise alimentar, agravada pela crescente alta dos preços é uma das principais conseqüências da recessão que estourou em 2008.

No entanto, analistas consideram que a tendência de ascensão dos preços dos alimentos continuará nos próximos anos, o que afetará sobretudo os países subdesenvolvidos e importadores de petróleo e de energia em geral.

A este respeito, o doutor Ramón Pichs, do Centro de Investigações da Economia Mundial (CIEM) de Cuba, afirmou que a dita crise constitui um problema urgente pelo seu impacto direto na qualidade de vida das pessoas.

Pichs explicou que entre as causas da volatilidade dos preços dos alimentos estão os altos custos do petróleo, pois cada vez mais o mercado energético determina a tendência agroalimentar, devido a sua importância na rede produtiva.

Também uma maior produção de agro-combustíveis, já que, por exemplo, ao redor da metade da produção de agroetanol dos Estados Unidos se obtém do milho.

Outros dos fatores implicados são o impacto da mudança climática e a especulação, fundamentalmente associada à debilidade do dólar e à globalização financeira.

Desde o início da crise, cerca de 200 bilhões de dólares de fundos especulativos localizaram-se nos mercados de alimentos, um setor de singular importância e com o qual também decidiram "jogar".

NA AMÉRICA LATINA E NO CARIBE

O Escritório Regional da FAO alerta sobre a alta histórica dos alimentos, o que atenta contra a erradicação da fome, que afeta a mais de 52 milhões de latino-americanos e pode aumentar o número de pobres.

O atual nível de preços é 40 por cento maior que há quatro anos, e se manterá elevado, pondo em risco a erradicação da fome no continente.

A volatilidade desses valores numa região onde a maioria dos países é importadora de carne e cereais, resulta significativa nas últimas três décadas.

Nesse contexto também se sobressaem as diferenças existentes, pois em países como Haiti, Guatemala e Guiana as crianças desnutridas oscilam entre 10 e 20 por cento da população, Argentina, Brasil, Chile e Costa Rica possuem taxas entre um e dois por cento.

Especial preocupação gera o alto preço atingido pelos cereais, principal fonte de calorias para os latino-americanos, pois o nível médio aumentou 36 por cento no último ano, segundo o relatório.

A crise na América Latina e no Caribe, região que produz suficientes nutrientes para satisfazer a sua população, está cruzada por um processo crescente de desnutrição que deriva em sobrepeso, o que poderia parecer contraditório.

INICIATIVAS REGIONAIS

Em nota apartada, a FAO reconhece uma iniciativa que também impulsiona: América Latina e Caribe sem fome, a qual busca garantir a segurança alimentar e nutricional e erradicar a fome de forma permanente para 2025.

Assim, apóia o desenvolvimento de políticas públicas e de programas nacionais para erradicar esse mal mediante compromissos de Estado que institucionalizem o problema.

Ademais, estimula a implementação de planos de ação com uma atribuição de fundos orçamentais conforme as dificuldades de cada país.

Como parte dessa iniciativa, advoga por uma alimentação saudável, balanceada e segura.

Por isso, se criou o programa Chef contra a fome, mediante o qual especialistas da área podem compartilhar, com toda a sociedade, informação necessária a fim de conseguir com que os alimentos aos quais têm acesso possam preparar pratos mais diversos e nutritivos.

O programa publica receitas a partir dos principais ingredientes da região, como a batata, os legumes e o milho.

MUITO POR FAZER

A estabilidade do mercado dos alimentos igualmente depende do incremento do investimento em agricultura, sobretudo nos países em desenvolvimento onde vivem 98 por cento das pessoas que passam fome e onde a produção de alimentos deverá ser dobrado de agora para 2050 para poder suprir a demanda da crescente população.

O investimento em infra-estrutura, sistemas de comercialização, serviços de extensão, comunicação e educação, bem como em investigação e desenvolvimento, permitiria incrementar a oferta de alimentos e melhorar o funcionamento dos mercados agrícolas locais, opina a FAO.

Assim poderiam ser atingidos preços menos voláteis a fim de ajudar à população pobre, que é a que suporta o ônus, uma medida que conseguiria muito pouco sem a vontade para efetuar uma boa distribuição e sem políticas realmente efetivas para sua aplicação.

* Jornalista da Redação de Economia da Prensa Latina

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