domingo, 28 de fevereiro de 2010

Presidente do parlamento cubano: os avanços de Obama em relação a Cuba

Alarcon em Havana | Foto: Marcelino Vazquez/ACN
Por Natália Viana no Opera Mundi 

Em abril de 2009, o governo Obama levantou as restrições de viagens e permitiu o envio de remessas em dinheiro e mercadorias para Cuba. No entanto, o presidente da Assembleia Nacional do Poder Popular, Ricardo Alarcón de Quesada, acha que os avanços na relação entre Estados Unidos e Cuba devem parar de avançar. “O mais provável é que as coisas não passem daí, pelo menos pelos próximos anos”, disse Alarcón em entrevista concedida ao Opera Mundi, em Havana.

Para ele, Obama ainda não tem uma política definida para a América Latina, e o continente está longe de ser prioridade para o governo democrata. A administração atual é melhor que a anterior, de George W. Bush, e sobram boas intenções, mas a Casa Branca não sabe exatamente o que fazer nem como fazer, argumenta. 

O sr. vê uma mudança na política americana para Cuba? 

Há mudanças, mas não são espetaculares. Haverá uma nova rodada de conversações bilaterais sobre imigração, mas isso não é grande coisa, um mecanismo que existia até Bush. Significa alguma coisa ele ser restabelecido, mas não é uma mudança dramática. A liberação das viagens dos cubanos-americanos foi uma promessa que Obama havia feito e que beneficiou muito a comunidade, e há uma mudança na linguagem. Não são mais os verbos insultantes de Bush, de Condoleezza [Rice, ex-secretária de Estado]. É um estilo mais civilizado, mas o mais provável é que as coisas não passem daí, pelo menos pelos próximos anos. 

Então qual seria o peso do reconhecimento pelos EUA da pressão internacional? 

Eu creio que se trata de criar, fortalecer e multiplicar ações de solidariedade, denúncia etc. E tratar de que isso chegue aos EUA, que os norte-americanos saibam que isso existe. Isso justificaria uma mudança. Acho, por exemplo, que os americanos agora entendem que a maioria da América Latina e do mundo está contra o bloqueio, porque todo ano se reúne a Assembleia [Geral] da ONU e sai no "New York Times".

Realmente, Obama, até agora, representa, mais do que tudo, uma oportunidade. Eu entendo o que diz o presidente Lula, que é um homem muito sábio. Ele se dá conta de que o inteligente é tratar de impulsionar Obama e também de abrir um espaço que não pode deixar de ser crítico. 

Tem havido muitas críticas de aliados de Cuba, como Venezuela, Bolívia e Brasil, contra a decisão americana de ampliar as forças militares na Colômbia, com a instalação de novas bases. Como o sr. vê a política de Obama para a América Latina? 

Se por um lado o discurso do Obama é, ou quer ser, mais multilateralista, menos belicoso, em algumas questões ele representou uma continuidade da política anterior: plano Colômbia, militarização da luta contra o narcotráfico etc. E quando ocorreu o golpe de Estado em Honduras, Obama o condenou desde o primeiro dia, mas na prática o Departamento de Estado reconheceu o que aconteceu ali. Há um perigo: para Obama, é muito mais importante o Iraque e o Afeganistão do que o que se passa na América ao Sul. Não é só que Cuba seja tão pequenininha, é que a América Latina tampouco tem essa prioridade na política americana. É curioso porque nos Estados Unidos todo mundo reconhece que o Brasil é um fator fundamental no mundo, que o Brasil não é um país qualquer. Isso se reflete em atitudes respeitosas e de elogio ao Brasil. E mais nada.

Em geral, pode-se dizer que não há uma política muito clara, mas tampouco estou convencido que haja realmente uma política como houve nos anos 1960, 70, 80, com pretensão de dominar. Sei que às vezes a crítica de esquerda diz isso, mas não vejo assim. Há a luta contra o narcotráfico e a militarização na Colômbia, e daí passou-se a provocações perigosas contra a Venezuela, mas me custa muito acreditar que essa administração queira abrir outro flanco de guerra. No final, a política para a América Latina é um grande vazio. Eu concordo com algumas coisas que Lula disse: que é gente com boas intenções, mas que não sabe o que fazer nem como fazer. 

Há espiões norte-americanos presos em Cuba? Qual é a penalidade? 

Há um caso recente de um contratista [funcionário não identificado da empresa Development Alternatives, contratada pela Usaid, a agência de desenvolvimento internacional americana, preso em Havana em dezembro de 2009 depois de distribuir celulares e laptops a ativistas cubanos]. Não sei a pena, que depende das acusações. Mas ele nunca vai ser condenado à prisão perpétua, aqui não há prisão perpétua. Mas, por outro lado, o caso dele lembra que essas políticas de infiltração seguem neste governo [Obama]. Há outras pessoas, os dissidentes cubanos, que financiaram ações, mas as condenações nem chegam perto de perpétua. O máximo são 20 anos para aqueles que seguem presos. E daí para baixo. 

Não há prisão perpétua em Cuba? 

Não. Temos a pena de morte, que se pratica muito pouco, quando há atos de terrorismo, perdas de vidas humanas. Casos excepcionais, e já faz anos que esta pena não é aplicada. 

Neste caso se aplicaria? 

Não. 

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